Mario Pirata o encantador de histórias
Mario Pirata se auto-define um marmanjo desengonçado, encantador de histórias, falador de poemas, descatador de caramujos, fazedor de miudezas, descascador de sonhares.O poeta tem doze livros publicados sendo oito para crianças.
O autor que faz da arte das palavras sua filosofia de bem viver fala que escutar a chuva, antes de qualquer outra coisa, e brincar com as palavras como quem toma um banho de cachoeira é o mote que move.Além de escrever poesia ele também é brincadeiro,denominação que simpaticamente exemplifica na bonita entrevista, que me concedeu, onde fala um pouco da sua trajetória, sua arte, sua vida
1-Fale um pouco de ti e tua trajetória artística;
Tenho 12 livros publicados, destes, oito para crianças. Todos, de poesia, excetuando um, que é o texto para um espetáculo de bonecos. O primeiro livro é de 1981, edição de autor. Participações em antologias e publicações diversas. Cartões, roteiros de poemas para apresentações, algumas poemas musicados por parceiros. Esse, o poeta. Mas meu arsenal de maior alcance mesmo é o do “brincadeiro” - conceito que homenageia a tradição dos brincantes do nordeste e referencia aos cantadores e artistas populares brasileiros que trabalham a linguagem como espetáculo. O Pirata que mais circula por aí é o segundo. Roda de poesia é uma aula-espetáculo e um picadeiro particular. O circo é montado onde seja convidado, isso desde 1985, oficialmente.
2-Tens a poesia como bandeira e forma de sensibilizar o teu universo e aos que estão ao teu redor. Como funciona este processo. Explique.
Compartilho a idéia de que o conhecimento eficaz e válido é o que venha aliado com o encantamento. Sem que estejam lançados os dados do imaginário, todo e qualquer sistema político é ineficiente e precário. Compreendo que o pensamento só se viabiliza de mãos dadas com o sentimento. Para que uma pessoa expresse criativamente o seu mundo, usando ela a forma de expressão que queira fazer uso, faz-se necessário que possua uma leitura criativa da coisa que ela quer falar. Não confio no discurso, acredito no curso natural do rio.
3-A leitura de poemas contribui para escrita, o estudo da teoria poética, ou se utiliza simplesmente da pura inspiração do momento. Como funciona o momento criativo de Mario Pirata?
O hábito da leitura foi um dos meus brinquedos preferidos desde pequeno. Os clássicos, os poetas, escutar muita música, encheram os meus bolsos de butiás. Depois passei anos lendo os filósofos e alguns teóricos e concluí que a cantoria de um violeiro pode falar mais coisas pra mim, hoje em dia. Tornar o simples, complicado, é fácil; tornar o complicado, simples, é arte – falou o baixista Charles Mingus. Escutar a chuva, antes de qualquer outra coisa, brincar com as palavras como quem toma um banho de cachoeira é o mote que me move.
4-Alguns autores contribuiram para tua identidade poética?
Noel Rosa, Quintana. Dorival Caymmi, Raul Bopp. Cartola, Bandeira. A enciclopédia Tesouro da Juventude que meu avô me presenteou quando guri. Monteiro Lobato, com o Sitio do Picapau Amarelo, numa edição tipografada, então, e que provocou um estado de delírium lúdicus que me salvou de vícios outros, felizmente.
5-Escreve para crianças e adultos. Como funciona este processo no momento da criação; linguagem, assunto, forma de abordagem. Comente.
A poesia pode ter adjetivos vários, existir de modos diversos, mas a essência é a beleza. Minha ferramenta é a intuição, ela é quem dita o ritmo e o compasso. Escrever e brincar com crianças limpa a mente do vivente, beber água de sanga e buscar o brilho no olhar delas me ensinam a limpar o coração. Para falar aos pequenos, desvencilho-me de objetivos e metas e utilizo basicamente o brinquedo. Para os grandes, escudo e lança. Para os pequenos, caramujos e ventos. Com os adultos, o movimento vira um jogo. Com as crianças, o jogo vira apenas movimento.
6-Achas que o papel do artista também é de sensibilizar as pessoas, fazer pensar, criar espaços de reflexão. Comente.
Citando Maiakovski, o que faço nunca me interessa se não comportar poesia. A palavra é criadora, então melhor que se vista com beleza e ritmo para que a criação propicie uma expansão de sentidos, símbolos e signos. Não há poema em si, mas em mim ou em ti, escreveu o poeta Otávio Paz. Existe também o ditado, quem quiser guabiju que sacuda o galho. A arte é a sacudida de galho, a alteração do estado de consciência mais agradável que conheço. E move (ou imobiliza) o homem.
Bate-bola:
1-um lugar...
O imaginário.
2-um poema
Cobra Norato.
3-um poeta
Hoje, Armindo Trevisan.
4-verso que te defines
“Marmanjo desengonçado, encantador de histórias, falador de poemas, descatador de caramujos, fazedor de miudezas, descascador de sonhares”.
5-música para ouvir e poetar
Moda de viola, instrumental.
6-se não escrevesse poesia.
Respiraria com mais dificuldade.
faroleiro
quem mandou colher o ouro
e a prata do sorriso,
saborear o perfume derramado
entre os dedos das mãos?
quem mandou esculpir castelos de areia
como se fossem de marfim,
correr com a sede de um cometa
pelas fontes do corpo?
quem mandou catar mariscos
e conchas no regaço,
desenhar no velame do barco
a nudez da delicadeza?
quem mandou mergulhar no abraço
com o desejo do vento,
costurar sonhos com a seda
do silêncio de sereia?
quem mandou acreditar em gnomos,
duendes, unicórnios, fadas,
imaginar que a poesia voltaria
na maré cheia da praia?
quem mandou pensar que o olhar
ficaria como uma tatuagem
e o carinho pudesse acalmar
o meu coração de menino?
quem mandou, amor meu,
foi o meu amor, não fui eu!
http://mariopirata.blogspot.com/
Mario Pirata se auto-define um marmanjo desengonçado, encantador de histórias, falador de poemas, descatador de caramujos, fazedor de miudezas, descascador de sonhares.O poeta tem doze livros publicados sendo oito para crianças.
O autor que faz da arte das palavras sua filosofia de bem viver fala que escutar a chuva, antes de qualquer outra coisa, e brincar com as palavras como quem toma um banho de cachoeira é o mote que move.Além de escrever poesia ele também é brincadeiro,denominação que simpaticamente exemplifica na bonita entrevista, que me concedeu, onde fala um pouco da sua trajetória, sua arte, sua vida
1-Fale um pouco de ti e tua trajetória artística;
Tenho 12 livros publicados, destes, oito para crianças. Todos, de poesia, excetuando um, que é o texto para um espetáculo de bonecos. O primeiro livro é de 1981, edição de autor. Participações em antologias e publicações diversas. Cartões, roteiros de poemas para apresentações, algumas poemas musicados por parceiros. Esse, o poeta. Mas meu arsenal de maior alcance mesmo é o do “brincadeiro” - conceito que homenageia a tradição dos brincantes do nordeste e referencia aos cantadores e artistas populares brasileiros que trabalham a linguagem como espetáculo. O Pirata que mais circula por aí é o segundo. Roda de poesia é uma aula-espetáculo e um picadeiro particular. O circo é montado onde seja convidado, isso desde 1985, oficialmente.
2-Tens a poesia como bandeira e forma de sensibilizar o teu universo e aos que estão ao teu redor. Como funciona este processo. Explique.
Compartilho a idéia de que o conhecimento eficaz e válido é o que venha aliado com o encantamento. Sem que estejam lançados os dados do imaginário, todo e qualquer sistema político é ineficiente e precário. Compreendo que o pensamento só se viabiliza de mãos dadas com o sentimento. Para que uma pessoa expresse criativamente o seu mundo, usando ela a forma de expressão que queira fazer uso, faz-se necessário que possua uma leitura criativa da coisa que ela quer falar. Não confio no discurso, acredito no curso natural do rio.
3-A leitura de poemas contribui para escrita, o estudo da teoria poética, ou se utiliza simplesmente da pura inspiração do momento. Como funciona o momento criativo de Mario Pirata?
O hábito da leitura foi um dos meus brinquedos preferidos desde pequeno. Os clássicos, os poetas, escutar muita música, encheram os meus bolsos de butiás. Depois passei anos lendo os filósofos e alguns teóricos e concluí que a cantoria de um violeiro pode falar mais coisas pra mim, hoje em dia. Tornar o simples, complicado, é fácil; tornar o complicado, simples, é arte – falou o baixista Charles Mingus. Escutar a chuva, antes de qualquer outra coisa, brincar com as palavras como quem toma um banho de cachoeira é o mote que me move.
4-Alguns autores contribuiram para tua identidade poética?
Noel Rosa, Quintana. Dorival Caymmi, Raul Bopp. Cartola, Bandeira. A enciclopédia Tesouro da Juventude que meu avô me presenteou quando guri. Monteiro Lobato, com o Sitio do Picapau Amarelo, numa edição tipografada, então, e que provocou um estado de delírium lúdicus que me salvou de vícios outros, felizmente.
5-Escreve para crianças e adultos. Como funciona este processo no momento da criação; linguagem, assunto, forma de abordagem. Comente.
A poesia pode ter adjetivos vários, existir de modos diversos, mas a essência é a beleza. Minha ferramenta é a intuição, ela é quem dita o ritmo e o compasso. Escrever e brincar com crianças limpa a mente do vivente, beber água de sanga e buscar o brilho no olhar delas me ensinam a limpar o coração. Para falar aos pequenos, desvencilho-me de objetivos e metas e utilizo basicamente o brinquedo. Para os grandes, escudo e lança. Para os pequenos, caramujos e ventos. Com os adultos, o movimento vira um jogo. Com as crianças, o jogo vira apenas movimento.
6-Achas que o papel do artista também é de sensibilizar as pessoas, fazer pensar, criar espaços de reflexão. Comente.
Citando Maiakovski, o que faço nunca me interessa se não comportar poesia. A palavra é criadora, então melhor que se vista com beleza e ritmo para que a criação propicie uma expansão de sentidos, símbolos e signos. Não há poema em si, mas em mim ou em ti, escreveu o poeta Otávio Paz. Existe também o ditado, quem quiser guabiju que sacuda o galho. A arte é a sacudida de galho, a alteração do estado de consciência mais agradável que conheço. E move (ou imobiliza) o homem.
Bate-bola:
1-um lugar...
O imaginário.
2-um poema
Cobra Norato.
3-um poeta
Hoje, Armindo Trevisan.
4-verso que te defines
“Marmanjo desengonçado, encantador de histórias, falador de poemas, descatador de caramujos, fazedor de miudezas, descascador de sonhares”.
5-música para ouvir e poetar
Moda de viola, instrumental.
6-se não escrevesse poesia.
Respiraria com mais dificuldade.
faroleiro
quem mandou colher o ouro
e a prata do sorriso,
saborear o perfume derramado
entre os dedos das mãos?
quem mandou esculpir castelos de areia
como se fossem de marfim,
correr com a sede de um cometa
pelas fontes do corpo?
quem mandou catar mariscos
e conchas no regaço,
desenhar no velame do barco
a nudez da delicadeza?
quem mandou mergulhar no abraço
com o desejo do vento,
costurar sonhos com a seda
do silêncio de sereia?
quem mandou acreditar em gnomos,
duendes, unicórnios, fadas,
imaginar que a poesia voltaria
na maré cheia da praia?
quem mandou pensar que o olhar
ficaria como uma tatuagem
e o carinho pudesse acalmar
o meu coração de menino?
quem mandou, amor meu,
foi o meu amor, não fui eu!
http://mariopirata.blogspot.com/
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